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Uma Narrativa sobre a Visão Estratégica

“O futuro não está escrito em parte nenhuma, ele está por fazer. O futuro é múltiplo e incerto”. Michel Godet



Era uma vez...


Antônio, um menino de quase 20 anos que vivia tranquilo e sossegado em uma cidade pequenina, no interior do interior do Nordeste, de onde todo mundo ia embora e não voltava. Uma cidade sem futuro.


Antônio era apaixonado por Carina, uma menina linda, de quase 19 anos, que nem seus melhores sonhos saberiam descrever. Carina também queria ir embora da cidade e conhecer o mundo.


Antônio tinha um problema. O amor de sua vida queria ir embora. Mas como saber se ela era o amor de sua vida? Como saber se eles realmente ficariam juntos?


Desde que nasceu tinha um combinado com o Tempo – esse com letra maiúscula, porque era seu nome. Ele conseguia viajar por ele, muitas vezes. Mas ainda não tinha ido ver o futuro.


E foi aí que Antônio finalmente recorreu ao seu amigo Tempo e com ele decidiu viajar. Começou a construir uma máquina no meio da praça da cidade, onde as pessoas passavam diariamente rindo, ou admirando, duvidando, ou torcendo.


Virou o evento da cidade e Antônio – para cada um que perguntava – prometia viajar no tempo. Dizia que iria até o futuro, 30 anos à frente, para ver como estaria a cidade e cada “habitante que ali habitava”.


Finalmente chegou o dia, e Antônio e toda a cidade estavam preparados. Só Carina não estava ainda. No fundo, estava com medo de que essa viagem pudesse ser uma prova de amor sem um final feliz. Antônio olhou para Carina, ligou sua máquina e, finalmente, iniciou sua viagem.


Não sei se você já viajou no tempo. Não se sabe direito se fica tudo escuro ou fica tudo claro. Para Antônio era a primeira vez. Por alguns minutos, Antônio ficou sem enxergar nada e, passado aquele clarão – ou escuridão – ele começou a reconhecer alguns contornos. A sua cidade estava deserta, aparentemente igual aos dias de hoje, mas sem nenhuma alma viva.


Mas de repente, lá ao longe, vinha uma pessoa, com uma aparência de 50 anos. Um homem com a mesma altura de Antônio, um corte de cabelo parecido com o de Antônio – mas com os fios grisalhos, claro –, um relógio de pulso igual ao que seu avô lhe deu. Espera aí! Essa pessoa era o próprio Antônio, só que com 30 anos a mais, o Antônio do futuro!


A cena era, ao mesmo tempo, a mais empolgante e assustadora da sua vida. Encarar seu próprio futuro não era coisa fácil. Um abraço estranho, mas um olhar de admiração – de ambos os lados. O Antônio do futuro que fora ali só para encontrar o Antônio do passado, sussurrou algo em seu ouvido e lhe deu um abraço apertado, de despedida. Naquele exato momento, o futuro se despedia do passado.


Antônio evocou seu amigo, o Tempo, novamente e viajou de volta para o presente onde estava. Como era sua primeira viagem, sua primeira experiência, ele não sabia que a volta seria mais rápida que a ida e, por isso, voltou ao mesmo momento, mesmo minuto, mesmo segundo aonde tudo começara. Para as pessoas que estavam assistindo, nada se pôde perceber. Parecia que Antônio nunca tinha saído dali.


A população de cidade, decepcionada com seu potencial futuro herói, ficou enfurecida e alguns queriam partir pra cima de Antônio. Como assim, mobilizar uma cidade inteira pra no fim não acontecer nada! A guarda da cidade já estava à postos, não se sabia se era para proteger Antônio ou para prendê-lo depois de tudo que havia feito.


Foi quando ele, em alto em bom som, decidiu enfrentá-los e contar como foi sua experiência no futuro: “Pra começar, viajar no tempo é muito bom e nos traz aprendizados. Eu fui ao futuro e posso lhes contar que o que nos reserva é muito promissor”.


Ainda ao som das vaias, ele resolveu utilizar a única informação que tinha – o sussurro do Antônio do futuro: “Senhoras e senhores, como prova de que eu fui e vi o futuro, posso lhes afirmar que daqui a poucos minutos uma nuvem preta chegará à nossa cidade e uma tempestade jamais vista acontecerá”.


Todos olhavam incrédulos o céu que naquele dia estava todo azul, completamente limpo. Mas não é que o Antônio do futuro estava certo?! Uma tempestade se aproximou em poucos minutos e fez tanto estrago, que foi considerada a maior tempestade de todos os tempos.


Todos fugiram para suas casas, ou pelo menos um abrigo, mas Antônio permaneceu no mesmo lugar –no meio da chuva –, e conseguiu um pouco de paz, para refletir e entender tudo o que tinha acontecido e o que não tinha acontecido. Aquele vazio que existia entre ele, o Antônio do passado e o Antônio do futuro.


Terminada a tempestade, algumas pessoas mais curiosas foram até Antônio, o cara que anunciou a tempestade antes mesmo dela se anunciar. O primeiro foi Seu Francisco, o prefeito, que preocupado com o futuro da cidade pedia um pouco de orientação para seu governo: “Antônio, meu filho, se você viu a nossa cidade do futuro, me conte mais como ela será”.


E Antônio descreveu: “Ah, será uma cidade muito linda! Esta praça mesmo será maior, terá uma fonte no centro dela e algumas árvores enormes pelos gramados onde várias famílias se reunirão para fazerem piqueniques à sombra”.


O prefeito coçou a cabeça e concluiu: “Então Antônio, se essas árvores serão enormes, preciso plantá-las amanhã mesmo, correto?” E o prefeito já gritou Dona Filomena, sua secretária, e pediu para marcar uma reunião no início da manhã com toda sua equipe de obras.


Em seguida, Dona Maria se aproximou e perguntou sobre seu filho, Joãozinho, menino levado, cheio de travessuras, que não ia bem na escola, nem se interessava: “Antônio, Joãozinho vai dar gente?” Antônio imediatamente respondeu: “Claro, Dona Maria! Ele será um grande economista e chegará à presidência do Banco Central”.


“Nossa Senhora, Antônio! É melhor eu acompanhar esse menino nos estudos e reforçar suas aulas de matemática”. E lá se foi Dona Maria com seu filho, satisfeita e cheia de planos para ele estudar mais e gostar mais de matemática.


E assim, várias pessoas foram se aproximando e perguntando sobre seu futuro a Antônio. E ele tinha uma resposta para cada um. Inclusive para ele e Carina...


E, desde aquele dia, Antônio aprendeu uma lição sobre o futuro. Ele não está escrito, nem definido! Ele não está pronto! Somos nós que construímos o futuro. E nessa construção do futuro, cabe a nós decidirmos se queremos ser protagonistas ou meros coadjuvantes.


Inspirado no livro A Máquina, de Adriana Falcão, no filme A Máquina, de Rui Falcão, na história contada por Nísia Werneck no Workshop Árvore da Vida 10+10 e nos ensinamentos de Michel Godet.
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